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A Introdução do Rito Moderno no Brasil

Paulo César Gaglianone

A Maçonaria se introduziu no Brasil quando este era Província da Monarquia Portuguesa. Por isso é importante voltar à Maçonaria em Portugal.

Remonta até cerca de 1730 a fundação em Portugal das primeiras Lojas sob a influência da França e Inglaterra (Clavel, 1843).

Em 1738 o Papa Clemente XII proíbe aos católicos exercerem atividades nas Lojas Maçônicas e o rei de Portugal D. João V ameaçava com penalidades os maçons. (Thory – “Histoire de La Fondation du Grand Orient de France”). Na verdade, nem a Bula do Papa, nem o Decreto do Rei, impediram as atividades maçônicas em Portugal.

Posteriormente, durante governo do del-rei D. José I (1750-1777) as Lojas Portuguesas funcionavam sigilosamente.

Daí em diante, até a Revolução Francesa,  Portugal recebia grande influência das Lojas de Paris, de nada valendo as proibições de D. João VI e de D. Maria I.

Ao redor de 1793, existiam em Coimbra e em Porto e delas fizeram parte vários estudantes das províncias ultramarinas inclusive do Estado do Brasil (Lívio e Ferreira, 1968).

O Grande Oriente Lusitano foi construído em 1800, tendo como Grão-Mestres o desembargador Sebastião de São Paio e em seguida, em 1803, o general Gomes Freire de Andrade (O Regresso da Maçonaria, Angel Maria de Lera; prefácio de Armando Adão e Silva, 1986).

Em 1807, Junot conquista Portugal obrigando a Corte portuguesa procurar abrigo no Brasil. “Assim a Maçonaria do Brasil desde o século XVIII esteve ligada a Portugal. Enquanto a sede da Monarquia Portuguesa foi em Lisboa, a Maçonaria sentia ser mais fácil os movimentos revolucionários no Brasil, daí as Inconfidências Mineira (1789) e Baiana (1799). Com a transferência da sede da Monarquia Portuguesa para o Rio de Janeiro, já surgiu em 1817 uma revolução simultaneamente no Brasil (em Pernambuco) e em Portugal (chefiada por Gomes Freire de Andrade)”, (Lívio e Ferreira, 1968).

A revolução liberal triunfante nas colônias inglesas da América do Norte, na França, na América Espanhola, estão também prestes a explodir na Nação Portuguesa.

Nos primeiros anos do século XIX, as Lojas Maçônicas espalharam-se consideravelmente nas províncias de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. Umas sob os auspícios do Grande Oriente Lusitano, outras sob o de França. A Loja “Virtude e Razão”, por exemplo, foi instalada em Salvador, em 1802, atuando no Rito Moderno.

“De lembrar que a Independência do Brasil, longe de consistir apenas no Grito do Ipiranga em 7 de setembro de 1822, antes teve o seu início com a Revolução Constitucional em 1820, no Porto, Portugal, por via de protesto contra as medidas recolonizadoras”. (Armando Adão e Silva, prefácio; O Regresso da Maçonaria, 1984).

O Grande Oriente do Brasil foi fundado em 17 de junho de 1822. Joaquim Gonçalves Ledo e José Clemente Pereira foram líderes destacados nesse movimento, ambos da Loja Comércio e Artes, fundada em 15 de novembro de 1815.

Assim, as Lojas “Comércio e Artes”, que se subdividiu em “União e Tranqüilidade” e “Esperança de Nictheroy”, formaram a base do Grande Oriente do Brasil, que recebeu a Carta Constitutiva do Grande Oriente Lusitano de Portugal. Seu primeiro Grão-Mestre Geral foi José Bonifácio de Andrada e Silva.

“A Loja Comércio e Artes e as que dela se derivaram trabalharam inicialmente no Rito Adonhiramita” e o “Grande Oriente do Brasil foi logo reconhecido pelos Grande Oriente de França, da Inglaterra e dos Estados Unidos” (Melo, Livro Maçônico do Centenário).

De acordo com Lima (Nos Bastidores do Mistério): “A Maçonaria Brasileira é filha espiritual da Maçonaria Francesa. Da França, veio o Rito Moderno com que o Grande Oriente atingiu a maioridade e, dez anos mais tarde, o Rito Escocês Antigo e Aceito.”

O Grande Oriente do Brasil foi fechado por D. Pedro I, Príncipe Regente, sendo restaurado em 1832 por José Bonifácio de Andrada e Silva.

O Grande Oriente do Brasil, restaurado em 1832, adotou o Rito Moderno e a Constituição do Grande Oriente de França de 1826, adaptada por Gonçalves Ledo e promulgada em 24 de outubro de 1836 (Viegas, 1986). O Rito Moderno, portanto, passou a ser o Rito Oficial do Grande Oriente do Brasil, nos trabalhos de seus Corpos Legislativo e Administrativo, ou seja, para o funcionamento de seus Altos Corpos.

A Loja Comércio e Artes nº 1, a partir daí, adota o Rito Moderno (posteriormente, através do Decreto 2405, de 13 de agosto de 1974, esta Loja mudou do Rito Moderno para o Rito Escocês Antigo e Aceito).

A Loja “Seis de Março de 1817”, de Pernambuco, se regularizou em 7 de outubro  de 1832 junto ao GOB, também trabalhando no Rito Francês (Albuquerque, A Maçonaria e a Grandeza do Brasil).

Datam de 1834 os manuais do Rito Francês publicados pelo GOB e de 1835 o estabelecimento de Capítulo neste Rito.

Em 1º de setembro de 1839 foi redigida outra Constituição, sendo logo substituída por outra de 1842. Em 1841, o Grande Oriente do Brasil foi de novo reconhecido pelo da França (Viegas, 1986).

Já na República, entre 1891-1901, o Grão-Mestre Antonio Joaquim de Macedo Soares, tendo como Secretário-Geral Henrique Valadares, deram à Maçonaria grande influência francesa e, “julgando-se dentro do espírito da lei da separação entre a Igreja e o Estado, conseguindo dar ênfase ao Rito Francês, o qual eliminava a Bíblia do Altar dos Juramentos e suprimia as referências ao Grande Arquiteto do Universo” (Viegas, 1986). A reforma constitucional de 1877 só alcançava a jurisprudência do Grande Oriente de França, mas o Grande Oriente do Brasil, onde se praticava o Rito Francês, acompanhou àquela Potência.

Em 1927 houve uma grande cisão no GOB com a formação das Grandes Lojas, sendo que estas últimas mantiveram o Rito Escocês.

“A Grande Loja da Inglaterra que considera condições indispensáveis para a vida maçônica a crença em Deus e em uma vida futura, e que rompeu com os Grandes Orientes da França e da Bélgica em defesa desses princípios, fez com o Grande Oriente do Brasil, em 1935, um tratado de aliança indissolúvel, firmando-se as relações cordiais entre os dois corpos”. (Viegas, 1986).

Hoje (1994), o Grande Oriente do Brasil possui 33 Lojas e 11 Capítulos, atualmente no Rito Moderno. Até o momento, não existem na América do Sul, dominada pelas Grandes Lojas, exceto no Brasil, Lojas que atuem no Rito Moderno.

O Rito Moderno desempenhou um importantíssimo papel no Brasil, de caráter positivo nas transformações nacionais, na fase da Independência, durante o Reinado Brasileiro e na Proclamação da República, em busca de uma sociedade mais perfeita e pelo triunfo do ideal fraternal.


3 comentários em “A Introdução do Rito Moderno no Brasil

  1. A “ESPIRITUALIDADE SEM DEUS” não precisa passar por alguma explicação ou doutrina religiosa. São contrários ao materialismo e, ao mesmo tempo, não estão filiados a qualquer segmento religioso. Espiritualidade sem religião é algo mais amplo. Religião é um trato que você faz com um Deus para ser admitido lá no céu. Espiritualidade (não confundir com espiritualidade cristã, espiritismo ou espiritualismo) é uma longa busca jornada nesse mundo-escola . Espiritualidade é “a arte de escutar”. Mas “escutar” com o que “se sente”, ou seja, escutar a realidade com o coração.
    Um ateu exerce a sua espiritualidade através do caminho do conhecimento científico e humanista. E o que é mais interessante dessa visão é a noção de que espiritualidade está intimamente relacionada com a verdade. E tal visão nos leva inequivocamente à ciência. Não é à toa que muitos cientistas sentiram a espiritualidade ao terem um conhecimento mais profundo do que somos, de onde viemos e para onde vamos. Tambem é certo que nós não sabemos muitas coisas sobre como o universo e como cérebro funcionam. Nós temos mais ignorância do que conhecimento. Os buscadores da verdade espiritual não se satisfazem tão facilmente, pois são levados a confrontar e desafiar crenças e convenções religiosas dominantes.
    Carl Sagan também defendeu a espiritualidade como a busca pela verdade, pois saber nos faz perceber que o Deus de muitas religiões não é grandioso o suficiente. Quando entendemos a dinâmica do universo, a criação e destruição de mundos, ficamos diante de algo mais imponente do que qualquer Deus imaginado. Um ateu ou agnóstico (para quem a existência de divindades é irrevelante) pode não apenas ter espiritualidade, mas pode ter um tipo de espiritualidade mais informada, em que você consegue a resposta para questões que outros acham misteriosas, e formula perguntas que poucos ousaram perguntar como o universo realmente funciona.

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    1. A Maçonaria Liberal e Adogmática é assim chamada justamente por não estabelecer regras tão rígidas quanto as que a Maçonaria Regular estabelece, pois, diferentemente desta, a Maçonaria Liberal admite pessoas de ambos os sexos, bem como, ateus e agnósticos. Ela também não só permite, como incentiva, o debate político e defende a postura da maçonaria como organização civil, livre de dogmas. Aparentemente, não existe dentro da Maçonaria Liberal uma estrutura tão severa. Como todas as grandes doutrinas espirituais, assim tambem a Teosofia exalta o bem, a paz, o amor, o altruísmo, e promove a cessação da pobreza, da ignorância, da opressão, das discórdias e desigualdades.
      Ninguém é mais digno por crer em algum Deus ou praticar alguma religião, porém se alguém age no cumprimento da lei e dos deveres, logo, também no cumprimento dos valores maçônicos certamente tal pessoa torna-se mais digna a cada vez que age de tal forma. Daí o porquê de podermos inferir, com segurança, que embora Deus e Espiritualidade sejam importantes não são essenciais à promessa maçônica, razão pela qual se faz necessária a criação e adequação urgente de uma promessa alternativa e um comportamento sem menção à palavra Deus.
      O fato de alguém acreditar em Deus ou duvidar de sua existência, não o torna inapto a seguir os preceitos e leis, ao contrário do que muitos crêem (mas não sabem).
      O fato de a pessoa CRER ou NÃO CRER em um Deus não ajuda em nada o mundo. Não muda nada para um Maçom, nem o desabona. Em contrapartida cumprir ou não cumprir qualquer uma das leis sim pode fazer toda a diferença para a sociedade, compreendem?
      É exatamente por isso que aventamos que a crença em seres superiores não é essencial, pois, por si, não deixa o mundo melhor ou pior, é indiferente. E se alguém achar que sou insensato no meu ponto de vista, lanço um desafio: Nomeie uma ação moral, ou prática realizada por um crente que um não-crente não possa realizar. Nomeie uma ação que não poderá ser executada sem intervenção divina!
      Solução: deixar a promessa atual como está e criar uma promessa alternativa àqueles que não se sentem confortáveis com a atual, para que ateus, agnósticos e outras “religiões” se sintam incluídas ou incentivados a participarem mais do Rito Moderno. Ou melhor, buscar a verdade e realidade e sepultar em definitivo as tais “ciências herméticas”, o “ocultismo”, os “misticismos” com o mesmo vigor que devemos sepultar na religião tudo aquilo que é dogmático e que ofende a lógica, o bom senso, a razão e as descobertas científicas.
      Para os Maçons, cada iniciado tem em si parte do Grande Arquiteto e cada membro da fraternidade será um arquiteto, não independente, mas “submisso” ao G.A.D.U., dessa forma explica Rizzardo da Camino, autor de mais de trinta livros:

      “O dever de todo maçom é o de ser uma espécie de renovador projetista”.

      “A Maçonaria ensina, defende e propaga que a sociedade, e de modo particularíssimo o Estado, não só não deve ter oficialmente nenhuma religião, mas deve excluir e eliminar do ambiente público tudo quanto se relacione diretamente com qualquer religião”.

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