Tradução José Filardo

O caminho na montanha impõe paradas indispensáveis e reparadoras. Refúgio de descanso e recuperação pelos quais todo o meu ser anseia, enquanto apenas começa essa procissão de suor, de dor e de sol ardente.

E como muitos caminhantes, certamente, nesses momentos privilegiados, eu me surpreendo em um ritual quase imutável:

Em primeiro lugar, eu olho para o caminho já percorrido. As muitas voltas pelas quais passei, os obstáculos superados, as passagens delicadas gerando sua quota de sofrimento e desânimo … e, às vezes, lá, ao longe, muito longe, tão grande quanto uma cabeça de alfinete, eu adivinho o estacionamento onde deixei o carro, o refúgio que eu deixei quando era noite ou, ainda, o campanário dessa igreja no fundo do vale.

Em seguida, vem o momento de restauração. Eu me hidrato, eu me alimento, eu recupero as forças. Com frequência esse é o momento do reencontro, da partilha com os outros.

E, finalmente, eu observo o restante da subida. Meus olhos já se dirigem ao cume que se desenha através da névoa matinal, e que eu estou bem determinado a atingir.

Desde o meu regresso de Roma, há três semanas, eu desfruto desse tempo que se oferece a mim como uma daquelas paradas recuperadoras.

OLHARA O CAMINHO PERCORRIDO:
UM FINAL DE NÃO RECEBER

Diante de um impasse, outros caminhos são sempre possíveis. Oferecer-me para trabalhar para o diálogo entre a Igreja ea Maçonaria com os teólogos e historiadores, cessando durante o tempo necessário para este trabalho, qualquer participação em uma reflexão em loja maçônica e solicitando a remoção da minha punição é um dos caminhos possível.

Esta proposta, até agora, não encontrou eco. Nem em Roma (pseudo-reunião com a Congregação para a Doutrina da Fé / silêncio do papa Francisco), nem na diocese de Annecy (reunião com o Bispo Boivineau há duas semanas).

Meus pedidos de justiça e de diálogo permanecem infrutíferos.

Pedido de justiça, já que a sanção que me é reservada parece-me desproporcional (não poder celebrar os sacramentos e, sobretudo, não os poder receber!). Sentimento de injustiça alimentado pelas acusações contra a maçonaria: eles não são mais relevantes, elas eram dirigidas aos maçons do início do século XX.

Pedido de diálogo, uma vez que não foi honrado. Eu tomei consciência do caminho com a Congregação via o diálogo ” tentar levá-lo a reconsiderar suas posições “! Por dois anos, o acompanhamento, embora fraternal, limita-se a esta dimensão. No entanto, o diálogo não é discussão para comparar os pontos de vista, visando encontrar, talvez, um terreno comum? Eu estava nesse caminho, que eu pensava ser recíproco …. Responder a um convite ao diálogo comporta o risco de ter que aprofundar a sua própria convicção e toda tensão é admissão de fraqueza interna. Apegar-se ao conhecido (ou infelizmente ao desconhecido!), como escreve Rivard é permanecer prisioneiro da ignorância.

Eu conclamo com todas as minhas forças esse debate teológico.

RECUPERAR AS FORÇAS: RESTAURAR-SE

Restaurar-se … ou melhor, deixar-se restaurar por Cristo.

Mesmo sem acesso à comunhão – porque eu estou excluído – Cristo permanece o meu alimento, a minha vida.

Privado da Eucaristia, são outros sinais de sua presença que, hoje, saciam minha sede.

Na noite de Sua última refeição, é um sinal de que ele oferece a seus amigos: sinal de Sua presença, Seu amor, do dom de Sua vida. E, no entanto, ele não está fechado na Eucaristia. Ele se dá a todos de uma maneira conhecida somente por Ele. Os sacramentos são sinais para os homens: eles lhes revelam um Amor, um Perdão, uma Vida… já oferecidos, já à obra antes de toda a ação humana.

A Igreja – na sua tradição católica – apresenta-se como o caminho exclusivo até Cristo. Ela se fecha em seus dogmas. Talvez eu tenha que aceitar deixar a Igreja que se revela como uma instituição que condena, que exclui, ainda que, paradoxalmente ouse louvar Cristo que veio para abolir todas as divisões e exclusões. Talvez, deva-se lamentar essa face da Igreja e recuperar sua face evangélica quando ela escuta a vida dos homens, compartilha suas esperanças e suas angústias, revela esse Deus de amor, já operando na vida de cada homem.

OLHAR PARA O CUME

Nós não estamos no fim de nossos esforços …

Nossa marcha para Roma é apenas uma etapa …

Juntos, nós plantamos um prego, como em uma parede rochosa que vai garantir a continuidade de nossa ascensão. Ele continuará a ser uma âncora para cada um de nós que, onde quer que esteja, poderá continuar essa marcha em Cristo.

De minha parte, esse será em um ambiente universitário (Faculdade de Teologia).

A luta pela justiça e diálogo está iniciada; ela permanece a minha, ela permanece a nossa. Nossa Igreja, nossos irmãos e irmãs nos esperam.

“Se teus projetos são para um ano, plante arroz; para 20 anos, plante uma árvore; para mais de um século, desenvolva os homens! ” (Provérbio chinês)

P. Pascal  Vesin

http://pascal-vesin.com/